Nesta segunda-feira aconteceu em uma das salas de comissões da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, uma audiência pública relativa a CPI das mortes de Policiais em defesa da vida dos Policiais Militares, presidida pelo Deputado Estadual Paulo Ramos.
A mesa foi composta por toda a comissão da CPI, formada pelos deputados Wagner Montes, Martha Rocha e Zaqueu Teixeira, além do deputado Paulo Ramos. Policiais Militares e Civis, inativos e pensionistas, representantes de associações, veículos de imprensas, entre outros acompanharam a audiência. Destaque para a presença do ex-comandante Geral, Coronel Hilton e para o Chefe de Gabinete do Comando-Geral, Coronel Yunes. Ao todo, cerca de 100 pessoas compareceram a audiência.
O Deputado Estadual Paulo Ramos fez questão de frisar que a audiência pública era para dar um basta nas mortes de Policiais Militares, descriminalização da Polícia Militar e ressaltou que o risco de morte de um PM por ferimento de arma de fogo é 10 vezes maior que a de um cidadão comum.
“Nossa audiência pública hoje aqui, não é para o levantamento de dados. Pois os dados a nossa CPI já levantou, quantos morreram, quantos foram feridos, quantos ficaram paraplégicos ou tetraplégicos, portanto esses dados nós já temos e nessa audiência pública nós temos que debater as causas. A profissão policial é um meio de vida ou a profissão policial é um caminho para a morte? É possível concluir que aqueles que foram vitimados em serviço ou em decorrência da profissão não recebem o apoio necessário. Esse é o ponto na nossa CPI.” Afirmou Paulo Ramos.
“Eu tenho 42 anos como profissional do jornalismo. 42 anos atuando ao lado da Polícia Militar. Desses 42 anos, eu só vejo, pelo menos 80% das vezes, de toda matéria que eu publico, quando envolve Policial Militar em algum tipo de confronto, aquele que morre é o Policial Militar. Eu nunca vi ou ouvi, ao chegar ao local do acontecimento, alguém dizer que o tiro partiu do bandido ou em direção ao policial, o que mostra a perseguição aos nossos servidores. Só esse ano nós tivemos 164 policiais entre baleados e mortos. Os policiais estão de mãos atadas. Então, temos que rever algumas coisas e essa CPI foi instalada para isso.” Declarou o Deputado Estadual Wagner Montes.
“Eu espero que nós consigamos sair daqui com uma decisão para que possamos buscar caminhos a ajudar aqueles que são vitimados com esse processo e combater esse terrorismo contra os Policiais Militares. Gostaria de destacar também que nós estamos ao lado dos aposentados e pensionistas nessa guerra travada com o Governo do Estado.” Disse o Deputado Zaqueu Teixeira.
“Hoje é uma das audiências mais importantes que já fizemos aqui sobre a morte de Policiais, porque hoje nós vamos poder ouvir efetivamente o que pensam os servidores policiais, inativos, agentes penitenciários e do Corpo de Bombeiros. Então hoje nós estamos aqui para ouvi-los e dar mais um passo importante para o prosseguimento dessa CPI.” Afirmou a Deputada Martha Rocha.
Policiais inativos em cadeira de rodas estiveram presentes e mostraram todos os seus questionamentos. Fizeram críticas ao tratamento que estão recebendo do Governo e disseram se sentir sozinhos nessa difícil jornada. A viúva de um Policial Militar assassinado em serviço também compareceu para mostrar seu descontentamento não só com sua situação atual, segunda ela “esquecida pelo Estado”, mas ao tratamento dado ao seu esposo quando o mesmo se encontrava em delicada situação no hospital.
O coronel Hilton frisou que as pessoas que matam policiais não tem medo das leis, o único medo é de se ferir e sentir dor. “Temos que agir. A Polícia Militar não pode se esconder. Nós temos que explorar, no bom sentido, as leis para evitar a morte de nossos homens. Temos que trabalhar para mudar essa rotina, pois apenas nós estamos morrendo.” O Coronel Jorge da Silva, professor e ex-secretário de Segurança fez um questionamento: “O tem que ser feito para o Policial não morrer? Temos que fazer alguma coisa. Podíamos começar pelo básico que é blindar as viaturas pois apenas os camburões são blindados. Isso poderia ser uma solução inicial preventiva.”
Paulo Ramos voltou a se pronunciar e fez uma crítica: “o Policial não tem saída. Ou mata ou morre. Ou fere ou fica ferido. A Polícia do Rio é a que mais mata mas é também a que mais morre. E isso é um problema político, pois nosso sistema causa isso. Nós temos um problema gravíssimo de distribuição de renda. O Rio ainda tem como principal problema a fome. É uma desigualdade social absurda. Nós temos que trabalhar antes do conflito, trabalhar para que não seja necessário o confronto.
O último a falar na audiência foi o Coronel Yunes, Chefe de Gabinete do Comando-geral, que fez um discurso emblemático.
“Queria deixar claro aqui que a PM e o Corpo de Bombeiros está sob comando. Nós estamos ao lado de vocês, estamos solidários aos aposentados e pensionistas, estamos lutando. Fomos ao Governo buscar soluções, nosso comandante foi a Brasília. Não medimos esforços para pagar os servidores. Somos homens e mulheres de honra e estamos preocupados com os servidores, sim! É a nossa história que está em jogo, são anos e anos servindo e protegendo a sociedade. Os problemas que aí estão não são problemas da Polícia e sim problema de Polícia, que é muito maior que a Polícia Militar. Vamos andar juntos, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar e vamos sair dessa.” Disse o Coronel Yunes em seu discurso enfático e incisivo.
A audiência teve quase cinco horas de duração e foi declarada pelo Paulo Ramos como um divisor de águas para o prosseguimento da CPI.